Planejei escrever a respeito das dificuldades da escrita por mulheres. Até retirei da estante Um teto todo seu, de Virginia Woolf, para uma nova leitura, mas nada me veio sobre o que queria escrever. Um trecho do livro me chamou a atenção e me levou para outro rumo.
Quase no final do livro, Virginia Woolf defende:
[…] um gênio como o de Shakespeare não surgia entre pessoas trabalhadoras, sem edução formal, servis. […] Não surge hoje entre as classes trabalhadoras (p. 73).
Em um instante me lembrei daquela famosa afirmação que estabelece a leitura como um pré-requisito da escrita: para escrever bem, é preciso ler.
Tenho a impressão de que a maioria dos escritores e das escritoras formou-se em áreas relacionadas à escrita ou pelo menos se encontrou com a leitura ainda no berço. Sinto-me um pouco deslocada quando leio biografias assim, pois não fiz nem uma coisa nem outra.
Não sei exatamente o que dizer. Não sei exatamente o que sinto neste momento. Oscilo entre raiva, nojo, medo e desesperança. Isso já faz algum tempo, mas vem aumentando a cada dia.
Não é tão simples entender como viemos parar aqui: foi um processo que envolveu diferentes grupos e levou anos. Porém podemos especular que o pior de todos os candidatos, o mais incapaz, o mais tosco, só conquistou o cargo mais importante de um país tão grande porque representava aquilo que muita gente sentia: ódio, ódio, ódio e ódio. Muitos cidadãos de bem ansiavam por ter uma arma na mão para matar os inimigos. Ou alguém pode citar uma qualidade daquele candidato, sem fazer referência aos defeitos dos demais ou de governos passados?
É irônico que muitos dos 57 milhões de responsáveis por essa desgraça se arrependeram do voto apenas quando viram o mito debochar dos atingidos por uma doença tão perigosa.
É um contrassenso falar de livros e de escrita em meio a uma pandemia. Disse isso a mim mesma inúmeras vezes quando a situação ficou mais séria, quando o que parecia distante se aproximou da gente.
Sentei-me para escrever ou pensei em escrever e me deparei com alguma notícia me levando de volta à realidade dos infectados, dos mortos, dos parentes dos mortos, dos desempregados, dos esfomeados. Como me atrever a falar em literatura enquanto o mais importante escapa das mãos de muita gente ou sequer passou por suas mãos?
Tomando emprestadas as palavras de uma amiga muito querida, é muito cômodo estar em casa com internet, TV, Netflix, alimentos e banheiro limpo. E eu acrescento: é muito confortável para mim ocupar meu tempo livre com leitura e escrita, já que não preciso me arriscar lá fora agora para conquistar o pão nem esperar pela caridade de alguém.
Sinopse: O maior sucesso de Isabel Allende, A casa dos espíritos é tanto uma emblemática saga familiar quanto um relato acerca de um período turbulento na história de um país latino-americano indefinido. Isabel Allende constrói um mundo conduzido pelos espíritos e o enche de habitantes expressivos e muito humanos, incluindo Esteban, o patriarca, um homem volátil e orgulhoso, cujo desejo por terra é lendário e que vive assombrado pela paixão tirânica que sente pela esposa que nunca pode ter por completo; Clara, a matriarca, evasiva e misteriosa, que prevê a tragédia familiar e molda o destino da casa e dos Trueba; Blanca, sua filha, de fala suave, mas rebelde, cujo amor chocante pelo filho do capataz de seu pai alimenta o eterno desprezo de Esteban, mesmo quando resulta na neta que ele tanto adora; e Alba, o fruto do amor proibido de Blanca, uma mulher ardente, obstinada e dotada de luminosa beleza. As paixões, lutas e segredos da família Trueba abrangem três gerações e um século de transformações violentas, que culminaram em uma crise que levam o patriarca e sua amada neta para lados opostos das barricadas. Em um pano de fundo de revolução e contrarrevolução, Isabel Allende traz à vida uma família cujos laços privados de amor e ódio são mais complexos e duradouros do que as lealdades políticas que os colocam uns contra os outros.
Quando quase alcançara seu propósito, viu aparecer sua avó Clara, que tantas vezes havia invocado para ajudá-la a morrer, informando-a de que a graça não estava em morrer, porque isso aconteceria de qualquer maneira, mas, sim, em sobreviver, o que era um milagre (p. 427).
O trecho citado acima é um dos tantos que me emocionaram em A casa dos espíritos, fazendo-me querer conhecer mais obras de Isabel Allende, uma das representantes do realismo mágico, corrente literária que vem me atraindo cada vez mais de um tempo para cá.
A história atravessa a vida de uma família latino-americana, por gerações, e revela a capacidade humana de se transformar e de se redimir, além de nos mostrar que o ato de uma pessoa pode ter consequências graves na vida de tantas outras ao seu redor.
A mãe dessa família é Clara del Valle, que desde bem pequena vive cercada por espíritos, movendo objetos com o poder da mente e prevendo o futuro. Ela também tem o costume de registrar os acontecimentos em um caderno de anotar a vida.
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