Ontem eu sonhei com o Saramago. José Saramago. O escritor português conhecido pelos longos parágrafos e pelo uso não convencional das vírgulas.
Não me lembro do seu rosto ou da nossa interação (ou se alguma ocorreu). Só sei que era ele ali, marcando presença na minha mente durante o sono.
Ele apareceu em meu sonho sem mais nem menos. Faz semanas que iniciei e interrompi a leitura de o Memorial do Convento (fui até a metade do livro). Vou retomá-la mais adiante.
Falando assim, dou a impressão de que me refiro a um conhecido, um familiar, um amigo. A verdade é que me sinto íntima do Saramago quando visito suas obras.
Para além de seu estilo único de escrita, admiro seu modo de narrar, sua ironia, a crítica política e social sempre presente em seus textos. Toda vez que leio um livro do autor, acabo acreditando que posso saramaguear, que sou capaz de criar uma obra significativa; começo a ter ideias e vontade de ousar.
Mãe de alguém. Chega um momento na vida em que passamos a ser conhecidas assim, como se nos faltassem nomes. Meu filho ainda nem saiu das fraldas e eu já reparo nisso de vez em quando.
A mãe da Babi, de Um ipê de cada cor, vive essa experiência. Não sabemos o seu nome. Não sabemos muito sobre a sua história. Ela é a mãe da Babi e da Ana.
Mas nos inteiramos de seu ingresso no mundo materno, de sua preocupação em repetir os erros com a segunda filha, de sua forma de amar as duas.
Ainda no ensino médio, ela conheceu um garoto que se tornou um amigo inseparável. A amizade cresceu, se modificou e, de repente, como não é raro na juventude, os dois acharam que não viveriam um sem o outro. Da paixão veio a surpresa: logo o casal traria mais um ser ao mundo.
Na infância, imaginamos os adultos bem-resolvidos, donos de si. Quando chegamos a essa etapa, porém, descobrimos: adulto é, em geral, uma criança que bate cartão, paga boletos e oculta sua infantilidade. Adultos não são imunes ao medo, à insegurança, aos traumas, à ansiedade, à vontade de chorar e espernear de vez em quando.
De tempos em tempos, reflito sobre o caminho que trilhei até aqui e idealizo o que encontrarei logo ali, à frente (não, esse trajeto não consta em GPS e mapas). Olho pelo retrovisor e comparo esta “eu” de hoje com aquelas que fui deixando para trás.
Já encarnei tantas versões. A lembrança de algumas me causa riso ou nostalgia; um punhado delas eu esqueceria de bom grado; outras, eu deveria viajar no tempo para consertar. De todo modo, elas não ficaram para trás de fato; vão no porta-malas, deslocando-se nas curvas, sacolejando nas estradas esburacadas.
O mês de abril é especial para o mundo do livro. Começa com o Dia Internacional do Livro Infantil, no dia 2. Segue pelo Dia Nacional da Biblioteca, no dia 9. Passa pelo Dia do Desenhista, no dia 15. Chega ao Dia Nacional do Livro Infantil e de Monteiro Lobato, no dia 18. E termina com o Dia Mundial do Livro, no dia 23.
O livro é curioso. Sua criação depende do escritor ou da escritora (quer dizer, depende também de mais alguns agentes que trabalham na sua produção). Porém, sua existência só tem significado, sua função só se cumpre quando outro alguém resolve abri-lo, conhecê-lo, avaliá-lo.
Há escritores e escritoras que juram escrever sem pensar nos leitores ou nas leitoras ou sem pretender uma futura publicação. Não sei se acredito. Quem desejasse manter o seu trabalho em segredo escreveria diários, e não livros.
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