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08 de fevereiro de 2024

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Meu melhor amigo

Revi essa foto na casa dos meus pais dias atrás, uma foto impressa, do tempo em que revelávamos nossas fotografias e as guardávamos em álbuns de papel.

Essa imagem desbloqueou a memória da infância e pré-adolescência. Por isso, tirei uma foto da foto para guardar comigo, no meu arquivo eletrônico.

Esse aí, todo posudo, era o meu melhor amigo daquela etapa da vida — e isso não é mero clichê. Ele era quem me acompanhava em passeios pelas ruas do bairro, em brincadeiras solitárias.

Olhando em retrospecto, eu era uma criança introvertida (não que isso tenha mudado tanto com o tempo). A diferença de quatro anos entre minha irmã e eu quase sempre nos colocou em fases diferentes, com interesses diferentes, à medida em que crescíamos. E meus maiores interesses ficavam circunscritos ao espaço da casa (tevê e criação de histórias) ou das proximidades (leitura de textos bíblicos na missa semanal e passeios com ele).

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13 de abril de 2023

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Tempo, tempo, tempo, tempo

Por Eriane Dantas

Que impiedoso o tempo
Ele se move, sorrateiro
e eu nem percebo
Aí olho para a cara
do meu filho
e comparo com a foto
de um ano atrás
É o mesmo menino
eu posso notar
no olhar
na boca
no nariz
nos traços que ainda estão lá
Só não encontro mais 
o mesmo menino
O rosto tem uma mudança
um quê de amadurecimento
o bebê se foi 
o corpo estirou
ele já passa de um metro
Faço então as contas
quatro anos completos
uma copa
uma olimpíada
uma eleição
um censo
uma pandemia
uma guerra
Coube tanto em 1.461 dias
Por aqui
tantas fraldas
tantos sorrisos
tantas lágrimas
tantos porquês
tanto orgulho
tantas chinelas Havaianas
E eu fico com a pergunta:
por que a pressa, tempo?

24 de fevereiro de 2023

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[Resenha] Corpo desfeito

Por Jarid Arraes

  • Título Original: Corpo desfeito
  • Gênero do Livro: Romance
  • Editora: Alfaguara
  • Ano de Publicação: 2022
  • Número de Páginas: 128
Sinopse: Amanda tem doze anos e acaba de perder a mãe. Sem conhecer o pai, toda sua esperança de conforto se volta para a avó, pessoa dura e intolerante, que já sofreu muito no passado. Por pouco mais de um ano, acompanhamos a vida de Amanda se ajustando às demandas cada vez mais extremas de Marlene: não fale com ninguém, não saia de casa, não use roupas chamativas, não tome banho de porta fechada.

Cerceando progressivamente o dia a dia da jovem, a avó constrói um lar que muito se assemelha a uma prisão seja para o corpo de Amanda, seja para a própria mente. Sob o pretexto de visões religiosas, as atitudes de Marlene levam a neta ao limite, mesmo que não consigam impedir que o primeiro amor brote no coração da menina.

Neste romance de estreia, Jarid Arraes mergulha fundo nas consequências do abuso físico e psicológico de crianças. Com uma prosa ágil e habilmente construída, ela nos mostra como essas marcas são criadas, e também como é possível escapar delas.
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Como se imagina a vida de uma menina de doze anos? Cercada do carinho da família, dedicada apenas aos estudos, às brincadeiras, às amizades e até a um despertar para a vida adulta. Bem, deveria ser assim. Sei que essa não é a realidade de todas as meninas, como não é a de Amanda, a protagonista do romance Corpo desfeito, da jovem escritora Jarid Arraes.

Reconhecida poeta e cordelista, Jarid é um dos nomes da nova geração de escritores e escritoras do Brasil, uma representante nordestina que vem despontando no meio literário brasileiro.

Corpo desfeito é o seu primeiro romance, lançado em 2022, pela editora Alfaguara, mas a autora também publicou As lendas de Dandara (Editora da Cultura, 2016), o livro de poesia Um buraco com meu nome (Jandaíra, 2018), a coletânea de contos Redemoinho em dia quente (Alfaguara, 2019) — vencedora do Prêmio APCA e do Prêmio Biblioteca Nacional — e Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis (Seguinte, 2020).

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13 de outubro de 2022

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Verdade ou imaginação?

Por Eriane Dantas

Às vezes, desconfio da minha memória de longa data. Modifico, recrio, dou nova versão às histórias que penso ter testemunhado? Ou a memória dos outros falha? Ou eles não viram o que eu vi?

O meu defeito é ter lembranças entrecortadas. Esqueço os detalhes: o lugar exato, os nomes dos personagens. Assim ninguém pode mesmo acreditar na minha narração. Em outra via, não me lembro de coisa alguma e, encabulada, respondo que “não, não lembro disso” ou “não, não sei quem é fulano” e ouço um desapontado “tu não lembra não?”.

Como se fosse hoje, avisto um conhecido da família, cabeleireiro de profissão, aparecer, na inauguração da praça do nosso bairro, vestido com roupas femininas e montado em um par de pernas que ninguém havia percebido embaixo das calças.

Ao comentar esse fato com meus pais, não soube explicar quem ele era, como se chamava, de onde o conhecíamos (nem eles estiveram comigo na inauguração da praça). Recorri à minha irmã, com quem eu fui ao evento, mas ela sequer se lembra daquela data.

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