14 de setembro de 2021

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[Resenha] Voragem

Por Junichiro Tanizaki

  • Título Original: Manji
  • Gênero do Livro: Romance
  • Editora: Companhia das Letras
  • Ano de Publicação: 2018
  • Número de Páginas: 240
Sinopse: Escrito originalmente em forma de fascículos entre 1928 e 1930 para uma revista japonesa, Voragem é um dos romances mais aclamados de Junichiro Tanizaki. No centro da trama está Sonoko Kakiuchi, uma jovem casada que frequenta um curso de arte. Nas aulas, ela conhece Mitsuko, uma colega de beleza estonteante por quem se vê perdidamente apaixonada. Sem conseguir frear seu desejo arrebatador, Sonoko se aproxima em uma pretensa relação de amizade e forja um contato cada vez mais íntimo, despertando rumores ao seu redor. Mitsuko, por sua vez, é implacável e não tarda a enredar sua amante em uma trama de chantagens. Voragem é uma obra-prima sobre amor e traição, verdades e mentiras, perversão e ciúmes.
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Voragem, conforme o dicionário, significa aquilo que traga, arrebata. Voragem é também o título de um livro de Junichiro Tanizaki, a minha primeira experiência com a literatura japonesa.

Esse não é o livro de um autor estreante; Tanizaki começou a escrever em 1909, aos 23 anos, e muitas de suas obras foram traduzidas para a língua portuguesa. Voragem, por exemplo, publicado originalmente em 1928, ganhou sua primeira publicação no Brasil no ano de 2001, feita pela editora Companhia das Letras. A edição que tenho em mãos foi publicada pela mesma editora, em 2018, e distribuída pela TAG Livros.

Junichiro Tanizaki, que faleceu em 1965, de acordo com uma pesquisa na internet, foi um dos maiores nomes da literatura daquela nação e sua obra tem um caráter erótico, destaca a identidade cultural e é marcada pela influência do mundo ocidental.

Percebi esses três aspectos em Voragem, cujo cenário principal é Osaka, uma grande cidade japonesa. O narrador nos apresenta — por vezes, com notas de rodapé — lugares, costumes, figuras, comidas típicas da localidade e mescla esse retrato com traços do ocidente.

A trama é narrada a um sensei pela protagonista, Sonoko Kakiuchi, uma jovem casada e de família abastada, e envolve sua paixão por uma moça que conhece em uma escola de artes, chamada Mitsuko. Seu casamento ou os boatos em torno de seu entusiasmo pela colega não impedem Sonoko de externar e alimentar o sentimento. Não só isso. Ela vai chamar a atenção da moça e manter com ela um relacionamento paralelo, que começa com uma amizade supostamente inocente.

Em sua companhia, eu ficaria aqui para sempre — quase declarei. Contentei-me, porém, em contemplar o perfil de Mitsuko, sentada ao lusco-fusco com as pernas estendidas diante de si. […] (p. 31).

Sonoko acaba enredada em uma história confusa, repleta de mentiras e traições, e, mesmo quando descobre o jogo de Mitsuko, não pode mais se libertar da amante. Consciente de estar sendo enganada, ela permanece fiel ao seu fascínio pela moça.

O desejo e a relação de Sonoko e Mitsuko são contados de forma sutil, deixando para o leitor ou a leitora o papel de imaginar o que não é dito. Não há qualquer cena explícita. Talvez por isso seja tão atrativo. Queremos ler a próxima página para descobrir se algo mais será mostrado. E mesmo assim eu achei a obra ousada, considerando-se a época e o país.

[…] Realmente, meu marido nem sonhava no começo que houvesse mais que simples amizade. Com o tempo, porém, ele deve ter começado a estranhar algumas coisas. […] (p. 52).

Há outro aspecto que me seduziu no livro. Fora o romance proibido e complicado, a própria narração antecipa que um acontecimento fatal encerrará a história.

O curioso é que o livro gira em torno de pessoas da alta sociedade, cujas ações são movidas pelo ócio ou por arranjos sociais. Isso, por si só, já me parece tedioso. Tanizaki, porém, criou a narrativa de um jeito que me fez esquecer o desinteresse pelo tema.

Voltando ao significado do título, acredito que foi uma escolha certeira, não só pelo furacão que a chegada de Mitsuko representa na vida de Sonoko; também pela sensação que o livro despertou em mim, me chamando, me prendendo, me fazendo querer ler mais.

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