02 de novembro de 2019

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O processo IV

Pesquisar

[…] o verdadeiro desafio que a página em branco impõe ao escritor não é apenas o de preenchê-la e, por assim dizer, de vencê-la, mas o de fazê-la uma página nova (Bettega, 2012, p. 11-12).

Antes de produzir um texto acadêmico, o autor é obrigado a fazer uma pesquisa sobre o tema a ser tratado. Na escrita de textos literários, não há essa exigência, mas é comum os escritores pesquisarem informações para embasarem seu trabalho.

Isso parece óbvio quando se trata de obras históricas. Ainda que o autor seja mestre em história, é conveniente que cheque datas, acontecimentos, comportamento e personagens reais da época sobre a qual pretende escrever, para não cometer erros que comprometam o enredo.

Imagine-se, por exemplo, uma história na qual o protagonista, um escritor brasileiro do século XVIII, datilografa um texto em uma máquina de escrever.

Olhando rapidamente para essa cena, diríamos: “Tudo bem! Era comum os escritores utilizarem máquinas de escrever antes da invenção e da popularização do computador”. De fato era, mas não no século XVIII.

O primeiro modelo de máquina de escrever começou a ser fabricado em 1877 pela empresa Remington a partir do invento dos americanos John Pratt e Christopher Sholes, embora a primeira patente de uma máquina do tipo tenha sido registrada em 1713, na Inglaterra, por Henry Mill. Além disso, o primeiro exemplar da máquina Remington só chegou ao Brasil em 1888, trazido pelo professor de taquigrafia Sebastião Mestrinho. Portanto, seria impossível o personagem daquela história hipotética utilizar uma máquina de escrever. Ele provavelmente usaria uma pena.

Aqui vale destacar uma curiosidade que descobri justamente pesquisando as informações do parágrafo anterior: antes de John Pratt e Christopher Sholes, o padre paraibano Francisco João de Azevedo já havia criado um projeto de máquina de escrever em 1861. Infelizmente não conseguiu apoio financeiro para a fabricação, e sua invenção acabou sendo esquecida.

Voltando a falar de pesquisa, o ato de pesquisar informações não auxilia apenas a escrita de textos históricos. Outras produções podem se beneficiar dela. Isso inclui as obras fantásticas, pois, mesmo ao criar universos ficcionais totalmente novos, o autor necessita traçar um paralelo com a realidade para garantir a verossimilhança.

Outro tipo de pesquisa que o autor pode fazer é a leitura do mercado, como Tino Freitas sugere. Ou seja, a consulta aos temas abordados nas produções atuais (tanto para conhecer o que agrada ao público e às editoras — se essa for sua intenção —, quanto para saber que assuntos ainda não foram tratados e os que foram explorados em demasia).

No passado, essa pesquisa provavelmente era difícil e demorada. As respostas eram encontradas em bibliotecas, arquivos públicos, nos próprios locais que serviam de cenário para as histórias. Hoje a internet nos permite pesquisar qualquer assunto com muita facilidade e, como todo mundo costuma dizer, nos possibilita até conhecer outros lugares sem sair de nossas casas.

Sou adepta da pesquisa. Aliás, quem me conhece sabe que consulto o Google com muita frequência (não sei quantas vezes por dia), em busca de respostas para qualquer dúvida: qual o especialista médico que trata de tal sintoma? Com quantos meses começam a nascer os primeiros dentes do bebê? Quem foi Fulano de Tal? Que livros tal autor escreveu?

Para a produção de textos, geralmente vou buscando as informações durante a escrita: confirmo datas, eventos, distância entre cidades, o uso de objetos e vestuário em determinada época, gírias e expressões empregadas em certo local etc. No caso de uma história que concluí (ou quase concluí) recentemente, realizei a pesquisa antes de começar a escrever, porque já tinha feito um planejamento geral do enredo; anotei tudo para futuras consultas, mas, claro, precisei fazer novas buscas enquanto escrevia.


Referência:

BETTEGA, Amilcar. Da página em branco à página nova. In: DOVAL, Camila Canali; SILVA, Camila Gonzatto da; SILVA, Gabriela (Orgs.). A escrita criativa: pensar e escrever literatura. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012, p. 11-14.

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