08 de agosto de 2023

0 Comentários

Duas obras baseadas em histórias tradicionais

Quantas versões de histórias tradicionais (contos de fadas, fábulas, lendas) você conhece? Esses contos originários da tradição oral já inspiraram e seguem inspirando outras histórias. Saci e Iara, por exemplo, são personagens de O Sítio do Picapau Amarelo. Chapeuzinho Vermelho, para citar outro exemplo, já ganhou inúmeras cores (Chapeuzinho Amarelo, Chapeuzinhos coloridos etc.) e variações, assim como outras personagens de contos de fadas.

Essa inspiração não se restringe à literatura. Os contos populares são temas de filmes, desenhos animados, peças teatrais.

Em geral, essas novas versões são bem-humoradas, trazem uma crítica às versões originais ou tentam dar um ar politicamente correto às narrativas, cujo conteúdo, por vezes, não se adequa mais aos padrões atuais.

Continue lendo
16 de junho de 2023

3 Comentários

Enigma da convivência

Por Eriane Dantas

Nunca entendi quem
não sente que sente
não remói os acontecimentos
esquece as brigas
perdoa num zás-trás 
não implica por qualquer coisa
não duvida das certezas
confia em coaches
não faz listas
não se organiza pelo Excel
anda de bicicleta elétrica
enlouquece por futebol
não curte música
se impacienta com séries de TV
vive em academia
toma chá em vez de café
ou toma café sem açúcar
não faz planos
não fala sobre trabalho
reclama de feriado
ama bloco de carnaval
come jiló
dança na frente de outras gentes
faz chá revelação
comemora mesversário
usa meia dúzia de reticências

Desconfio que por aí
alguém
diz de mim 
coisas do tipo
Num movimento recíproco
não entende 
quase nada deste ser humano
torce o nariz para as estranhezas 
que carrego
(algumas com orgulho)
e eu nem quero tomar conhecimento
ou vou ruminar esse amargor
até perder o gosto

Levarei mais trinta anos
para desvendar
o enigma da convivência
O outro não sou eu
e eu não sou o outro
Somos conjuntos independentes
Não estou contida nele/nela
nem ele/ela em mim
Cabe-nos 
mirar na interseção 
ou, na sua falta,
se não for obrigada
seguir em outro rumo
e evitar a colisão
17 de maio de 2023

0 Comentários

[Resenha] Estela sem Deus

Por Jeferson Tenório

  • Título Original: Estela sem Deus
  • Gênero do Livro: Romance
  • Editora: Companhia das Letras
  • Ano de Publicação: 2022
  • Número de Páginas: 184
Sinopse: Um pouco antes das eleições de 1989, a protagonista deste romance migra de Porto Alegre para o Rio de Janeiro. Entre as duas cidades, entre a infância e a adolescência pobres, acompanhamos a trajetória de Estela em meio a uma sequência de violências, faltas e desamparos a que ela, a mãe e o irmão são submetidos. Manifestando suas inquietações com a vida, as perguntas da jovem perscrutam seu mundo e as dores que carrega. Na relação ambígua com a família, nos embates entre religião e liberdade: a força da escrita de Jeferson Tenório surpreende mais uma vez nesta narrativa sobre crescer num país cruel e desigual.
Comprar na Amazon

Estela vive em Porto Alegre com a mãe, Irene, e o irmão caçula, Augusto, quase abandonada pelo pai, que só aparece quando tem vontade. Ela sonha em ser filósofa, embora não saiba o que os filósofos fazem de fato.

As filósofas são assim: dizem palavras que só vão fazer sentido depois de terem feito certas voltas dentro da gente […] (p. 13).

Ao se mudar para o Rio de Janeiro com o irmão sob os cuidados da madrinha Jurema, uma ferrenha religiosa, Estela se vê na contradição entre temer a Deus e não sentir sua presença, entre obedecer à mulher que a acolhe e viver em liberdade.

Estela sem Deus é criação de Jeferson Tenório, autor de O avesso da pele (Companhia das Letras, 2020), livro que lhe rendeu o Prêmio Jabuti. Além dessas duas obras, Tenório publicou O beijo na parede (Sulina, 2013).

Continue lendo
13 de abril de 2023

2 Comentários

Tempo, tempo, tempo, tempo

Por Eriane Dantas

Que impiedoso o tempo
Ele se move, sorrateiro
e eu nem percebo
Aí olho para a cara
do meu filho
e comparo com a foto
de um ano atrás
É o mesmo menino
eu posso notar
no olhar
na boca
no nariz
nos traços que ainda estão lá
Só não encontro mais 
o mesmo menino
O rosto tem uma mudança
um quê de amadurecimento
o bebê se foi 
o corpo estirou
ele já passa de um metro
Faço então as contas
quatro anos completos
uma copa
uma olimpíada
uma eleição
um censo
uma pandemia
uma guerra
Coube tanto em 1.461 dias
Por aqui
tantas fraldas
tantos sorrisos
tantas lágrimas
tantos porquês
tanto orgulho
tantas chinelas Havaianas
E eu fico com a pergunta:
por que a pressa, tempo?


1 2 3 4 5 55
© 2024 Histórias em MimDesenvolvido com por