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14 de março de 2024

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Uma carta para Carolina

Você e eu só temos em comum o desejo de escrever, o desejo de menos injustiça. De resto não posso mensurar sua experiência de fome, preconceito e miséria.

Mas senti sua dor nos relatos do dia a dia na favela, no estranhamento na casa de alvenaria.

Sempre que posso falo de você, da sua força, do seu sonho, da verdade em suas palavras, da atualidade dos seus escritos, que datam de mais de meio século. Queria que todo mundo, gente jovem, gente velha, pobre, rica, classe média, lhe fizesse uma visita.

Nascemos separadas pelo tempo. Quando vim ao mundo você já tinha partido dez anos antes e ninguém me apresentou a você. Nosso primeiro encontro foi há cerca de cinco anos, antes que o planeta entrasse em um pesadelo do qual tememos nunca mais sair.

Vi na sua história uma história que não apenas se conta, uma história que ainda se vive neste país tão desigual, embora optemos por fechar os olhos às vezes.

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20 de outubro de 2023

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[Resenha] Capitães da areia

Por Jorge Amado

  • Título Original: Capitães da areia
  • Gênero do Livro: Romance
  • Editora: Companhia das Letras
  • Ano de Publicação: 2009
  • Número de Páginas: 280
Sinopse: Desde o seu lançamento, em 1937, Capitães da Areia causou escândalo: inúmeros exemplares do livro foram queimados em praça pública, por determinação do Estado Novo. Ao longo de sete décadas a narrativa não perdeu viço nem atualidade, pelo contrário: a vida urbana dos meninos pobres e infratores ganhou contornos trágicos e urgentes. Várias gerações de brasileiros sofreram o impacto e a sedução desses meninos que moram num trapiche abandonado no areal do cais de Salvador, vivendo à margem das convenções sociais. Verdadeiro romance de formação, o livro nos torna íntimos de suas pequenas criaturas, cada uma delas com suas carências e suas ambições: do líder Pedro Bala ao religioso Pirulito, do ressentido e cruel Sem-Pernas ao aprendiz de cafetão Gato, do sensato Professor ao rústico sertanejo Volta Seca. Com a força envolvente da sua prosa, Jorge Amado nos aproxima desses garotos e nos contagia com seu intenso desejo de liberdade.
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“Prenda o leitor já na primeira frase” — essa dica não falta quando se trata de orientações para criar narrativas ficcionais. Embora de difícil execução, o conselho se sustenta quando se analisa a concorrência que se impõe aos livros (por exemplo, outros livros e as redes sociais), além da falta de tempo de que todo mundo se queixa. Uma obra que capta a atenção do leitor no primeiro encontro tem mais probabilidade de não se ver revendida num sebo ou esquecida numa estante.

Em caso de livros ou autores célebres, essa característica pode não ter tanto peso. Mesmo que o início não seja tão cativante, a validação prévia da obra nos leva a acreditar que logo adiante nos depararemos com aquele tchã, aquele aspecto que faz a obra aparecer em listas de indicações.

Entre mim e Capitães da areia ocorreu algo desse tipo. A minha leitura do livro começou arrastada, como se ele e eu não tivéssemos ainda nos conectado. Por isso, o deixei por uns dias, troquei-o por outros, fingi que não o via.

Afora o fator que descrevi no parágrafo anterior, sou persistente nas leituras (sinto-me mal por largar alguma pela metade e só o faço depois de avançar por muitas e muitas páginas). Então resgatei esse romance da mesa de cabeceira. Foi aí que o match aconteceu.

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04 de abril de 2023

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[Resenha] O último dia de um condenado

Por Victor Hugo

  • Título Original: Le dernier jour d'un condamné
  • Gênero do Livro: Romance
  • Editora: Estação Liberdade
  • Ano de Publicação: 2010
  • Número de Páginas: 198
Sinopse: Em um romance de surpreendente modernidade, o grande escritor do romantismo se joga de corpo e alma contra a pena de morte. Composta de um texto principal – o diário dos últimos dias da vida de um condenado –, de uma peça na qual personagens inventados por Victor Hugo criticam ferozmente a obra (prefácio à edição de 1829) e de um longo panfleto em defesa da causa (prefácio de 1932), esta edição vem contribuir para um debate em torno de uma discussão que alguns ainda tentam reviver no Brasil. Redigida em primeira pessoa, sentimos como um soco no estômago a voz de alguém que compartilha nossa existência por um tempo determinado. Logo sua cabeça será ceifada pela famosa engenhoca do doutor Guillotin e irá rolar para o cesto que as apara após a decapitação. Num ambiente de trevas, assistimos na própria descrição do condenado hora a hora aos preparativos de sua morte, à sorte de seus companheiros mais felizardos dos trabalhos forçados, à derradeira visita de sua filha que não o reconhece e o afasta ("o senhor me machuca com essa barba"), ao despojamento de seus últimos pertences para companheiros de "fortuna", etc. A obra foi escrita em menos de três meses sob influência de uma execução em Paris à qual Victor Hugo assistiu em 1825.
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O último dia de um condenado vivia ali há anos, esperando que eu o tirasse da estante para alguma coisa mais que limpar e reorganizar o acervo. Eu o comprei em uma promoção, sem qualquer indicação ou pista de seu conteúdo, apenas pelo nome do autor, que também é responsável por O corcunda de Notre Dame (1831) e Os miseráveis (1862).

Esses dois títulos eu não li ainda, mas já vi filmes baseados em suas histórias. Conheço o autor francês pelos versos que inspiraram a canção do Frejat que era um dos hinos da minha adolescência.

Subestimei O último dia de um condenado. Por isso, passei à sua frente tantos outros livros – até aquisições bem recentes. Mas o último carnaval serviu para o nosso encontro. E que encontro!

Nessa obra, acompanhamos a narração dos últimos dias (não só um) – as últimas seis semanas, para ser exata – de um homem condenado à morte na guilhotina em Paris, no século XIX.

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12 de julho de 2022

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[Resenha] O terraço e a caverna

Por Maurício Limeira

  • Título Original: O terraço e a caverna
  • Gênero do Livro: Romance
  • Editora: FCP
  • Ano de Publicação: 2016
  • Número de Páginas: 274
Sinopse: Quinha tem onze anos. Mora com os pais, o irmão e o avô numa cobertura na zona sul do Rio de Janeiro.

Paco tem doze. Mora com o pai, os tios e a avó, num buraco abandonado do metrô carioca depois que o tráfico os expulsou da comunidade em que viviam.

Ele é cadeirante. Ela sofre da Síndrome das Pessoas Inexistentes, vivendo solitária num universo muito particular, onde gatos falam, voam e são terrivelmente ardilosos.

As probabilidades de Quinha e Paco se conhecerem são mínimas.

Mas isto não é empecilho para o destino.
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Duas crianças da mesma faixa etária experimentam realidades opostas na cidade do Rio de Janeiro. Uma vive no terraço e a outra, na caverna e, por motivos diferentes, ambas se afastaram do convívio social. Podem então seus caminhos se cruzar?

Esse é o mote de O terraço e a caverna, segundo romance do escritor carioca Maurício Limeira, um dos vencedores do Prêmio Literário Dalcídio Jurandir 2015, da Fundação Cultural do Estado do Pará (FCP).

De classe alta, Quinha reside numa cobertura em um bairro nobre da capital fluminense. Apesar de dividir o espaço com os pais, o avô e o irmão e receber cuidados desses entes dedicados, ela não sente a presença da família, não sabe sequer que ela existe. A Síndrome das Pessoas Inexistentes, que se desenvolveu depois de um episódio traumático, cria na menina a impressão de ser a última humana na Terra. Por isso, seu único relacionamento é com um gato chamado Moisés, que aparece e desaparece à medida que seu estado de saúde fica mais ou menos crítico.

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