15 de dezembro de 2020

2 Comentários

Depois de nove meses

Por Eriane Dantas

Presa em casa
não aguento mais um dia,
nem tanto por me isolar,
às vezes não faz mal
não ter que ver o mundo.

Prefiro esse mundo que vejo
da varanda:
o céu azul,
as nuvens quebrando o monocromático,
os passarinhos no alto
brincando de voar.

Não aguento mesmo
é o mundo lá fora.
Enquanto uns fecham as portas
de casa,
outros se juntam para ir à praia,
à festa,
a monumentos
que jamais se interessaram
em visitar.

Não me chame
para reunião,
para confraternização,
para festa de aniversário.
Eu, que nem do vídeo gostava,
só me encontro com os outros
por uma tela.

Estou aqui,
diante do computador,
e minhas companheiras se apertam
em ônibus lotados
e se sentam para trabalhar
na mesma sala.
E quem poderá defendê-las agora?
Só o Chapolin Colorado.

Já parei até de acompanhar:
as mortes subindo
e o presidente rindo
e um tantão de cidadãos
(cidadãos não)
que não sei o que tomaram
se aglomerando na rua
para protestar contra a vacina.

Enquanto isso sobe o preço
da cesta básica
e dão desconto nas armas
porque tem gente
com tesão em morte
(a morte dos outros, claro).

E na televisão
um monte de gente
nas compras,
na cara nada de máscara,
e a notícia
tem sempre um inocente
que leva um tiro
da arma
de um indivíduo
de farda.

Ainda tem 37%
dizendo que tá tudo bem,
tudo beleza.
Caíram no conto
do melhor desempenho no mundo,
da gripezinha
e da equipe técnica.
Não sabem que para ser técnico
basta não discordar
do absurdo.

E não sei se devo desejar
a partida
de 2020.
Desejei sua chegada,
e ele só se mostrou
um 2019
em sua versão piorada.

Aquela luz
no fim do túnel
que todo mundo procura
eu não vejo daqui.
Mas vou fingir que ela está ali,
só para não terminar
esse poema
tão pessimista.

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2 Comentários

  • Luzia
    16 dezembro, 2020

    Poema lindo, que nos mostra a realidade

    • Eriane Dantas
      17 dezembro, 2020

      🙂

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