Se vocês gostam de escrever ou desenhar ou dançar ou cantar, façam porque é ótimo: enquanto a gente brinca assim, não se sente mais sozinha, e fica de coração quente.
No centenário de Clarice Lispector, falo aqui de um livro que essa conhecida escritora brasileira (nascida na Ucrânia) produziu para crianças.
Em A mulher que matou os peixes, que conta com ilustrações de Flor Opazo, a autora se apresenta como ela própria e conversa com os leitores e as leitoras, contando-lhes histórias, que não sabemos se são verdadeiras ou inventadas, sobre diferentes animais: gatos, cachorros, macaco, lagartixa etc.
Mas ela garante, mais de uma vez, que é tudo verdade, pois:
[…] não minto para menino ou menina. Só minto às vezes para certo tipo de gente grande porque é o único jeito.
Ela inicia o texto declarando-se culpada pela morte dos peixes. É ela mesma a mulher que dá nome ao livro. Mas trata de dar uma volta por outras histórias (e confessa essa estratégia), na esperança de que as crianças a perdoem pelo erro.
Esses outros relatos mostram seu amor pelos bichos e nos convencem de que só por acidente aquela mulher seria capaz de matar os peixes. Ao fim, ninguém seria tão duro ao ponto de não perdoá-la, ainda mais com este pedido:
Vocês ficaram muito zangados comigo porque eu fiz isso? Então me deem perdão. Eu também fiquei muito zangada com a minha distração. Mas era tarde demais para eu me lamentar.
É interessante como ela se dirige às leitoras e aos leitores, incluindo-os na história, fazendo-lhes perguntas, explicando-lhes aquilo que talvez não entendam. Ao mesmo tempo, ela não hesita em contar casos de morte de animais, coisa que hoje certamente seria evitada.
Ao ler o texto, especialmente o trecho destacado a seguir, reconheci a Clarice Lispector que eu vi recentemente em sua última entrevista, concedida à TV Cultura, em 1976 (veja a entrevista mais abaixo).
Tem gente grande que é tão chata! Vocês não acham? Elas nem compreendem a alma de uma criança. Criança nunca é chata.
Publicada originalmente em 1968, essa não foi a única obra para crianças que Clarice Lispector escreveu. Embora esses livros sejam menos conhecidos, ela também publicou os seguintes títulos: O mistério do coelho pensante, A vida íntima de Laura, Doze lendas brasileiras: como nasceram as estrelas.
Em A mulher que matou os peixes, Clarice Lispector mostra que sabe conversar com as crianças, sem necessidade de infantilizar a narrativa, apenas tratando de temas que interessam a elas, de um jeito sensível e descontraído.
E aí? Você já leu algum livro de Clarice Lispector destinado a crianças e jovens?
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