04 de maio de 2021

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[Resenha] Casa de alvenaria

Por Carolina Maria de Jesus

  • Título Original: Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada
  • Gênero do Livro: Diário
  • Editora: LeBooks
  • Ano de Publicação: 2019
Sinopse: Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada foi escrito em 1961, por uma improvável autora. Carolina Maria de Jesus era negra e passou a maior parte de sua vida morando numa favela e trabalhando como catadora de papel. No entanto, frequentou a escola e, em pouco tempo, aprendeu a ler e a escrever e desenvolveu o gosto pela leitura. Seu primeiro livro foi Quarto de despejo: diário de uma favelada, que alcançou grande sucesso e foi traduzido para diversas línguas. A partir dai, não parou mais de escrever e seu segundo grande sucesso foi Casa de alvenaria, um livro tocante, no qual Carolina de Jesus conta, por meio de um diário, sua nova perspectiva de vida, já morando em uma verdadeira casa de tijolos. Nessa narrativa os dias assumem uma nova dimensão deixando de ser sempre iguais e precedidos pela fome. As surpresas, os choques, as grandes alegrias e os desencantos se sucedem neste registro de grande valor humano e de grande valia para a compreensão da realidade brasileira. Casa de alvenaria é uma leitura tocante e inesquecível.

Casa de alvenaria: diário de uma ex-favelada, de Carolina Maria de Jesus, é a continuação do livro Quarto de despejo: diário de uma favelada. Agora, após o lançamento do primeiro livro — obra de grande sucesso, traduzida para outros idiomas —, Carolina e os três filhos saem do quarto de despejo e ingressam na sala de visitas.

A tristeza estava residindo comigo há muito tempo. Veio sem convite. Agora a tristeza partiu, porque a alegria chegou. Para onde será que foi a tristeza? Deve estar alojada num barraco da favela (p. 25).

Aqui o maior conflito da autora não é mais a fome (tão presente em Quarto de despejo), mas sua entrada em um mundo estranho, o qual não compreende muito bem, onde passa a valer pelo dinheiro que tem (ou que pensam que ela tem). A toda hora alguém a procura para pedir dinheiro emprestado, para representar alguma causa. Isso e a rotina de viagens e de eventos relacionados ao lançamento da obra tiram-lhe o tempo da escrita, o que é causa de angústia.

Devido o sucesso do meu livro eu passei a ser olhada como uma letra de câmbio. Represento o lucro. Uma mina de ouro, admirada por uns e criticada por outros (p. 114).

Por essas e outras, mesmo tendo realizado o sonho de ter a própria casa, de dar comida e educação para os filhos, ela de vez em quando reclama, questiona se é realmente essa vida que desejava. Também se queixa do controle de Adáulio Dantas, o jornalista que a descobriu, a quem ela se refere, na maioria das vezes, como “o repórter”.

Estou indisposta e agitada, pensando na minha vida trepidante. Todos os dias deparo-me com um aborrecimento (p. 124).

Carolina vive uma contradição. É reconhecida e aclamada por onde passa. Conhece políticos, como Leonel Brizola; integrantes da alta sociedade, como Eduardo Suplicy e sua família; e escritores, como Jorge Amado (é bonita a forma como a autora relata o encontro com o escritor baiano; ela diz que ele deveria ser chamado de Jorge Amor). Ao mesmo tempo, é vítima de preconceito no ambiente por onde agora transita, até mesmo vindo de pessoas de baixo poder aquisitivo (ela narra, por exemplo, a discriminação que parte de duas mulheres brancas que contrata para trabalhar em sua casa).

Um ponto marcante da obra é que Carolina não se esquece da situação em que vivia, sofrendo pelos pobres, por seus antigos vizinhos na favela, protestando contra o custo de vida, a fome, o capitalismo (tanto que até teme ser rotulada de comunista). Em várias passagens, em momentos de fartura de comida, a autora recorda sua vida passada e pensa nos mais necessitados, que não têm aquilo que ela conquistou.

Eu saí da favela. Tenho impressão que saí do mar e deixei meus irmãos afogando-se (p. 87).

Carolina também critica as classes média e alta (incluindo os políticos), que só descobriram que há miséria no país ao ler Quarto de despejo e que falam da fome (que para eles é abstrata), embora não saibam o que ela significa.

Ao ler Casa de alvenaria, fiz uma comparação com Quarto de despejo. Para mim, o primeiro livro de Carolina Maria de Jesus foi mais impactante, em virtude da narrativa sobre as dificuldades da autora num meio desfavorecido. Em Casa de alvenaria, no entanto, Carolina também ecoou em mim com o seu sentimento de inadequação, com a mudança brusca de sua condição de vida, com a sua incompreensão do ser humano.

E você? Já leu Quarto de despejo e Casa de alvenaria? Então conta aí nos comentários o que achou. 😉

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