19 de outubro de 2019

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[Resenha] O peso do pássaro morto

Por Aline Bei

  • Título Original: O peso do pássaro morto
  • Gênero do Livro: Romance
  • Editora: Nós
  • Ano de Publicação: 2017
  • Número de Páginas: 168
Sinopse: A vida de uma mulher, dos 8 aos 52, desde as singelezas cotidianas até as tragédias que persistem, uma geração após a outra. Um livro denso e leve, violento e poético. É assim O peso do pássaro morto, romance de estreia de Aline Bei, onde acompanhamos uma mulher que, com todas as forças, tenta não coincidir apenas com a dor de que é feita.
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O peso do pássaro morto, primeiro romance de Aline Bei, é um livro tocante. É mais uma estreia impressionante a ser acrescentada a outras de que já falei aqui.

[…] no tempo da minha/ memória/ somos pra sempre. não existe morrer dentro, é como uma canção./ as canções não morrem nunca porque elas moram dentro das pessoas que/ gostam delas. […]

Estou testando o Amazon Prime gratuitamente por um mês e entre os benefícios estão diversos títulos em formato e-book para ler de graça.

Não sou muito habituada a ler livros em equipamentos eletrônicos. Sou da turma dos que gostam de ter um livro físico em mãos, folheá-lo, marcar as páginas com marcador e, ao final da leitura, guardar o livro na estante.

Mesmo assim, resolvi conhecer as ofertas, e a primeira recomendação que me chegou foi esse livro.

O título chamou a atenção e a sinopse também. Já indicavam alguma história triste.

Comecei a leitura e, a cada página, eu queria ler mais e mais. Quando era obrigada a interromper a leitura, ficava com aquela história na cabeça, refletindo, tentando prever o que aconteceria a seguir, repetindo as palavras.

A trama de O peso do pássaro morto é narrada em primeira pessoa por uma mulher (inicialmente menina) dos seus oito aos 52 anos de idade. O romance é escrito de forma poética, de um jeito inovador e ousado.

Confesso que, no primeiro olhar, me causou estranheza a ausência de letras maiúsculas onde as regras ortográficas mandam estar. Depois fui entendendo que isso se trata de uma escolha pessoal da autora. Ela coloca (ou não) as iniciais maiúsculas onde quer.

[…] eu não conseguia contar isso pro lucas,/ não saía o som quando eu abria a boca pensando que agora seria uma boa/ hora pra contar./ a verdade/ estava morta/ de tão trancada que ficou por esses anos./ escrever eu consegui,/ mas a carta eu/ fiz morrer […]

O peso do pássaro morto faz a gente pensar e sofrer do início ao fim. Há uma identificação com a personagem, mesmo que não tenhamos uma história exatamente igual à dela. Em certos momentos, ela poderia ser eu, poderia ser qualquer mulher. Mas esse fato não torna esse livro menos especial, pois nele a história é contada de forma única.

Ela fala de perdas quando se é ainda muito inocente para entendê-las, daqueles acontecimentos que mudam toda uma vida sem o nosso controle, daquela solidão que sentimos mesmo não sendo totalmente sozinhas, da culpa que por vezes nos atormenta, do distanciamento entre as pessoas, da repetição dos dias.

[…] o trabalho é/ por tantas vezes/ a maior tristeza da vida de uma pessoa e é só nisso/ que certos pais pensam, no filho/ crescendo e sendo alguém sendo que esse ser alguém envolve tudo menos/ Ser. […]

Nessa história, aos dezessete anos de idade, a personagem vê se transformar o curso da sua vida, devido ao machismo do garoto com quem ficava e dos colegas de escola.

Mas há também um toque de fantasia no meio de tanta dureza: um menino Jesus que não para no presépio e um cachorro que não parece cachorro, ele mesmo servindo como um refrigério para uma vida arrastada.

O livro é pequeno e pode ser lido em pouco tempo, mas não deve ser desconsiderado devido ao seu tamanho. É admirável como a autora conseguiu atravessar a vida da personagem, contando o que de mais relevante havia nela, de um jeito tão potente, com uma perfeita combinação de palavras.

[…] não ver alguém nunca mais por/ questões sentimentais/ doía menos do que/ não ver alguém nunca mais porque a pessoa deixou/ de existir. […]

É também surpreendente que, além de ter iniciado com um romance de tanta qualidade, Aline Bei ainda tenha tido coragem de ousar logo em sua estreia. Não foi à toa que, com esse livro, ela tenha sido vencedora do Prêmio São Paulo de Literatura de 2018, na categoria melhor livro do ano de um autor estreante com menos de quarenta anos.

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