16 de janeiro de 2022

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[Resenha] A lua de Alice

Por Carol Petrolini

  • Título Original: A lua de Alice
  • Editora: Cortez
  • Ano de Publicação: 2020
  • Número de Páginas: 64
Sinopse: Alice tem doze anos, gosta de estar com as amigas e jogar futebol. Mas quando decide passar o fim de semana na casa da avó, é surpreendida pela chegada de sua primeira menstruação! Surgem dúvidas, medo e preocupação. Afinal, ela já tinha ouvido falar muita coisa desagradável sobre esse assunto. Neste livro, Carol Petrolini aborda o significado da primeira menstruação e dos ciclos femininos, faz reflexões sobre o ser mulher no mundo atual e traz à tona a importância da sororidade e da empatia. Alice percebe que as mulheres funcionam de acordo com um ciclo, assim como a natureza, e desperta para os saberes femininos antigamente transmitidos de geração em geração – de avó para mãe e para filha – e que agora podem ser acessados por todas as mulheres e por todos os homens. (Fonte: Amazon).
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Não sou grande fã de livros para crianças e jovens escritos para ensinar alguma coisa. Como eu já disse aqui, os textos literários são uma fonte de conhecimento, mas ensinar não deve ser seu objetivo.

A lua de Alice, livro escrito por Carol Petrolini e ilustrado por Laura Barbeiro, parece ter a finalidade de esclarecer à leitora ou ao leitor o tema da primeira menstruação. Mesmo assim, o caráter informativo não prejudicou a obra, que conseguiu aliar o conteúdo que queria transmitir a uma história bonita de parceria entre avó e neta.

No livro, acompanhamos um dia da vida de Alice, uma garota de doze anos de idade que vai passar o final de semana na casa da avó materna. Fazia tempo que ela não dormia ali. O quarto traz lembranças de quando era bem pequena e uma sensação de aconchego.

Exatamente em um desses dias na casa da avó, Alice passa por uma situação nova, incômoda para toda menina. Na verdade, ela tem a sorte de estar lá nessa data. A avó trata o assunto com naturalidade e tem uma longa conversa com a neta sobre o que significa (ou deveria significar) aquela experiência, ao contrário da forma como é encarada no mundo atual (quer dizer, no contexto sociocultural em que vivem Alice e a avó).

— O que aconteceu com você hoje, Alice, a chegada de sua “lua”, de sua primeira menstruação, não é motivo de tristeza nem de medo. É um momento belo, simbólico, que mostra que você faz parte desse círculo da vida, da ciranda de mulheres que vieram antes de você: sua mãe, avós, bisavós, tataravós e todas antes delas, gerações e gerações de mulheres, nossas ancestrais (p. 19).

A avó relata que, em outra época, o período da menstruação representava um momento em que as mulheres se reuniam e partilhavam saberes e vivências. Ela compara os quatro momentos do ciclo menstrual às fases da lua e às estações do ano, destacando as mudanças que ocorrem no corpo e nas emoções da mulher. Em cada um deles, predomina algum sentimento, e a mulher estará mais propícia a um tipo de atividade (ou a atividade nenhuma).

— […] Quando a mulher entra na fase pré-ovulatória, é como se ela vivesse essa disposição da primavera dentro dela. É o início de um novo ciclo. No corpo, o útero se renova após eliminar um óvulo que não foi fecundado e os hormônios trabalham para amadurecer um novo óvulo. A mulher sente-se florescendo, com vontade de semear ideias, iniciar projetos, tomar decisões. Ela está aberta a novidades. Vive um momento de expansão, por isso também podemos comparar essa fase com a da lua crescente. Geralmente nos sentimos mais dispostas, com mais energia (p. 28).

Eu e as mulheres que conheço aprendemos a conviver com a menstruação como um evento fisiológico que causa nojo, desconforto e desregulação dos hormônios, do qual nos livraríamos se essa fosse uma escolha nossa (às vezes, até o interrompemos com o uso de fármacos). Se me lembro bem, a chegada da minha lua não teve qualquer romantismo; foi cercada apenas de constrangimento e de uma sensação de perda.

— Sabe, Alice, em algum momento do passado, tudo o que era sagrado e valorizado no Feminino foi sendo distorcido, passando a ser visto como pecado ou algo sujo. As mulheres foram se distanciando dos saberes do próprio corpo. A menstruação passou a ser vista com repulsa ou, no mínimo, como uma desvantagem das mulheres. […] (p. 21).

A lua de Alice então convida as meninas (e as mulheres) a repensarem a concepção sobre o ciclo menstrual. Por mais difícil que pareça, em vez de um estorvo, ele pode ser tratado como uma renovação contínua, a preparação do corpo para a germinação — não apenas no sentido de gerar novos seres humanos; também no sentido de criar ideias e projetos, de recriar a nós mesmas. Essa concepção exige o olhar para si mesma, para o próprio corpo e para os próprios sentimentos.

Com se vê, além do ciclo menstrual em si, o obra aborda o autoconhecimento, a troca de saberes entre mulheres de diferentes gerações, a sororidade, a ancestralidade. Por isso, a recomendo a todas as meninas e mulheres e também aos meninos e homens que se interessam em conhecer as particularidades femininas.

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