Uma das gratas lembranças da minha infância são os bolos com que minha mãe me acordava no dia do meu aniversário: bolos com glacê simples branco. O gosto não consigo recordar agora, mas ao pensar neles sinto um sabor de alegria, de amor, de dedicação.
Minha mãe sempre foi dedicada à família e dominou a cozinha com seu conhecido talento culinário. Talvez por isso eu não tenha me preocupado em aprender muito no campo da panificação e confeitaria (quem precisa aprender a fazer bolos quando tem uma mestre em casa?).
Isso, porém, rendeu certo desconforto, pois era justo que alguém lhe preparasse um bolo em seu aniversário. Minha irmã e eu até tentamos, mas decidimos esquecer a ideia quando um bolo solado se tornou o pivô de um drama familiar.
No meu último aniversário, já durante a quarentena, tive vontade de comer um bolo confeitado — vontade que não se manifestava havia alguns anos — e me lembrei dos tantos bolos que ganhei dela. Que bom teria sido encontrar um deles sobre a mesa ao acordar!
Com a distância imposta pela pandemia, não tive a chance de ser presenteada com uma de suas criações e fui eu mesma para a cozinha. Foram horas para terminar o processo de juntar os ingredientes, mexer, levar a massa ao forno e retirar o bolo pronto (esta parte com ajuda para não correr o risco de reviver um trauma), cortar, rechear e cobrir.
No fim, acho que o resultado atendeu às expectativas, e comemorei meu envelhecimento comendo um bolo com cobertura de chocolate. Mandei uma foto para ela; na verdade, queria poder lhe oferecer um pedaço do meu primeiro bolo de verdade.
De lá para cá, tenho feito um bolo por final de semana (não faz tanto tempo assim — foram apenas dois depois do bolo de aniversário). Não garanto que poderia viver dessa atividade nem que estabelecerei uma nova tradição. Minha única promessa é preparar um bolo para minha mãe quando findar o isolamento social.
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