12 de janeiro de 2025

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[Resenha] Flores para Algernon

De Daniel Keyes

  • Título Original: Flowers for Algernon
  • Gênero do Livro: Romance de ficção científica
  • Editora: Aleph
  • Ano de Publicação: 2018
  • Número de Páginas: 288
Sinopse: Com excesso de erros no início do romance, os relatos de Charlie revelam sua condição limitada, consequência de uma grave deficiência intelectual, que ao menos o mantém protegido dentro de um “mundo” particular – indiferente às gozações dos colegas de trabalho e intocado por tragédias familiares. Porém, ao participar de uma cirurgia revolucionária que aumenta o seu QI, ele não apenas se torna mais inteligente que os próprios médicos que o operaram, como também vira testemunha de uma nova realidade: ácida, crua e problemática. Se o conhecimento é uma benção, Daniel Keyes constrói um personagem complexo e intrigante, que questiona essa sorte e reflete sobre suas relações sociais e a própria existência. E tudo isso ao lado de Algernon, seu rato de estimação e a primeira cobaia bem-sucedida no processo cirúrgico.
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Por que estou sempre olhando pra vida por trás de uma janela? (p. 272).

Flores para Algernon é um romance de ficção científica de autoria de Daniel Keyes, publicado pela primeira vez em 1966. Já foi adaptado para o rádio, o cinema, o teatro e a televisão. Entre essas adaptações, encontram-se o filme americano Charly (Os dois mundos de Charly, em português), de 1968, e o filme francês Des fleurs pour Algernon, de 2006.

O narrador da história, Charlie Gordon, tem 32 anos e um quociente de inteligência (QI) de 68 pontos, considerado baixo. Charlie é enviado a uma instituição que recebe jovens e adultos com deficiência intelectual: pessoas cujas famílias as tratam como incapazes de manter uma boa relação com a sociedade e viver com independência. Seu tio, porém, o tira do asilo e consegue para ele um emprego na padaria de um amigo, onde Charlie trabalha desde a adolescência, em serviços de limpeza e carregamento.

Mas Charlie deseja aprender, ser inteligente e descobrir o que ocorreu com sua família (seu pai, sua mãe e sua irmã). Então se matricula em um curso para adultos “retardados”, cuja professora o indica para um experimento científico da universidade.

O estudo, que tem início com um rato, o Algernon, envolve uma operação no cérebro de Charlie e diversas sessões de testes e de terapia para avaliar seu crescimento intelectual e as variações no aspecto emocional. O psiquiatra que integra o grupo de pesquisa alerta Charlie, embora Charlie não compreenda o aviso naquele momento, que ele terá maior necessidade de participar da terapia à medida que o seu QI aumentar.

— Quanto mais inteligente você se tornar, mais problemas você terá, Charlie. […] (p. 53).

Charlie narra sua história por meio de relatórios de progresso. A aquisição gradual do conhecimento fica nítida no texto, tanto pela forma como Charlie escreve (os erros ortográficos e gramaticais do início vão se consertando), quanto pelo conhecimento que demonstra. Ao passo que se desenvolve intelectualmente, sua inocência se esvai e suas lembranças emergem. Charlie se transforma diante dos nossos olhos em outro Charlie — e um não tem nada em comum com o outro, a não ser a origem.

[…] Sou como um homem que passou a vida inteira semiadormecido, tentando descobrir como ele era antes de acordar. Tudo está estranhamente borrado e em câmera lenta. (p. 84).

O alcance do conhecimento de Charlie não se origina apenas da intervenção cirúrgica em seu cérebro, mas de uma busca que cresce a cada degrau que ele sobe em sua aprendizagem. Charlie se torna um leitor frenético e curioso, com uma infindável necessidade de aprender.

A obra traz à tona o poder do conhecimento, que muda a forma como enxergamos o mundo e como nos enxergamos. Enquanto não possuía a habilidade da leitura, a compreensão do significado das palavras e a memória, Charlie se sentia inferior e era alvo da gozação de quem ele tratava como amigo. Vivia à margem da sociedade, sem perspectivas de avanços.

Quando a realidade se descortina, Charlie muda sua posição, mas tem que conviver com as consequências no campo emocional. Aquele psiquiatra acertou: Charlie precisa de muita terapia, porque a consciência traz junto uma grande dose de sofrimento. Isso nos faz questionar se a realização de seu sonho de ser inteligente produziu a satisfação que imaginava ou se ele era mais feliz na alienação. Seria o conhecimento uma benção ou uma maldição?

[…] inteligência e educação sem doses de afeto humano não valem de droga nenhuma. (p. 230).

A obra também leva ao debate sobre os limites da ciência: até onde ela pode ir? Ela pode recriar um ser vivo? É ético usar um ser humano em um experimento tão arriscado, como se fosse um rato de laboratório como Algernon? Esse questionamento é feito até pelo próprio Charlie. Já outros personagens reprovam o experimento científico, mas por uma perspectiva religiosa, considerando uma afronta à criação de Deus qualquer mudança nas características de uma pessoa.

Flores para Algernon impacta do início ao fim. Comecei a leitura e me ressenti de não ter tempo para terminá-la de uma tacada só. De leitura fácil, o livro carrega uma mensagem profunda. A obra nos tira o conforto e nos obriga a pensar, a sentir junto com Charlie. Nessas 288 páginas em que caminhei com o personagem, vivi uma oscilação de sentimentos e quis estar ao seu lado para apoiá-lo.

***

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