
Ele nasceu com cheiro de flor,
daquelas que espalham seu aroma
ao serem tocadas pelo vento.
Não era rosa
nem lírio
nem margarida.
Era uma espécie rara,
ainda não catalogada.
Menino-flor
ou flor-menino.
Ainda na maternidade
o cheiro invadiu as narinas
dos médicos,
das enfermeiras,
da mãe,
do pai,
das mães e dos pais
nos outros quartos.
Todos inspiravam aquele perfume
devagar,
de olhos fechados.
E aquele odor pesado,
como de fruta apodrecida,
que infestava o ar
e paralisava corpos e pensamentos,
foi engolido pelo bálsamo
que até então ninguém sabia
de onde vinha.
Doce e suave,
entrava pelos narizes
e percorria lentamente o caminho até os pulmões.
Dali fugia em um passo para os cérebros,
causando risos instantâneos.
Os sorrisos se espalharam.
O choro dos outros bebês não se ouvia.
Pacientes cambaleavam nos corredores
com dentes à mostra,
como se as dores em seus corpos não sentissem.
Quando se descobriu
a origem do aroma,
o quarto do recém-nascido encheu-se
de visita.
Todos
se trombavam
para ocupar um tantinho
daquele espaço
e se sentirem extasiados.
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