Não estamos conseguindo agora, e talvez nunca seja possível ganhar a vida escrevendo, que é a profissão desejada por nós. O que faremos para ganhar dinheiro sem sacrificar nossa energia e tempo, prejudicando nossa vocação? (Plath, 2017, p . 505).
O trecho acima retirei de Os diários de Sylvia Plath. Nele a autora relata sua angústia por não poder viver de seu sonho de escrever.
Imagino que todo escritor e toda escritora tenha um sonho igual ao de Sylvia Plath. Quem de nós nunca se colocou como personagem daquela cena em que um escritor se encerra em seu escritório, recheado de livros, senta-se à mesa e passa o dia apenas criando, criando e criando?
Havia se passado bastante tempo desde o início do trabalho no hotel. Certa noite, obrigaram-me a ficar até tarde, pois haviam hóspedes importantes por chegar, e o gerente me mandou faxinar cada um dos quartos desocupados. Nada poderia estar fora do lugar, ele disse, nem um grão de poeira deveria restar nos aposentos das tais autoridades.
Quem eram os hóspedes tão exigentes ninguém me informou, e eu também não questionei. Esse não era o tipo de gente que me interessava. Na verdade, quase nada despertava meu interesse naquela época.
Quando enfim deixei o hotel, vi um grupo de pessoas saindo da igreja ao lado. Não tinham cara de reza, mas como eu poderia ter certeza se também já não rezava? Movimentaram-se com rapidez e em poucos segundos sumiram. Perguntei-me quem eram elas, embora não tenha perdido tanto tempo buscando a resposta. Logo dormi.
É um contrassenso falar de livros e de escrita em meio a uma pandemia. Disse isso a mim mesma inúmeras vezes quando a situação ficou mais séria, quando o que parecia distante se aproximou da gente.
Sentei-me para escrever ou pensei em escrever e me deparei com alguma notícia me levando de volta à realidade dos infectados, dos mortos, dos parentes dos mortos, dos desempregados, dos esfomeados. Como me atrever a falar em literatura enquanto o mais importante escapa das mãos de muita gente ou sequer passou por suas mãos?
Tomando emprestadas as palavras de uma amiga muito querida, é muito cômodo estar em casa com internet, TV, Netflix, alimentos e banheiro limpo. E eu acrescento: é muito confortável para mim ocupar meu tempo livre com leitura e escrita, já que não preciso me arriscar lá fora agora para conquistar o pão nem esperar pela caridade de alguém.
Há pouco mais de 21 anos uma menina chegou a Brasília com a mãe e a irmã, quando a cidade ainda não tinha quatro décadas. Era uma jovem tentando se firmar, acolhendo quem a buscava e dizendo que sempre cabia mais um.
A menina estranhou a vida na nova cidade, embora residisse fora do centro, que nem mesmo costumava visitar. Quis embora, voltar a uma terra onde era bem-vinda e semelhante a todo mundo. Aqui se sentia diferente, como se todos vissem em seu rosto que não pertencia ao lugar, a intrusa na casa dos outros.
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