Não sei exatamente o que dizer. Não sei exatamente o que sinto neste momento. Oscilo entre raiva, nojo, medo e desesperança. Isso já faz algum tempo, mas vem aumentando a cada dia.
Não é tão simples entender como viemos parar aqui: foi um processo que envolveu diferentes grupos e levou anos. Porém podemos especular que o pior de todos os candidatos, o mais incapaz, o mais tosco, só conquistou o cargo mais importante de um país tão grande porque representava aquilo que muita gente sentia: ódio, ódio, ódio e ódio. Muitos cidadãos de bem ansiavam por ter uma arma na mão para matar os inimigos. Ou alguém pode citar uma qualidade daquele candidato, sem fazer referência aos defeitos dos demais ou de governos passados?
É irônico que muitos dos 57 milhões de responsáveis por essa desgraça se arrependeram do voto apenas quando viram o mito debochar dos atingidos por uma doença tão perigosa.
Depois do desastre que foi a conversa com seu pai, encontrei Teresa e disse que queria participar de suas reuniões. Não importava contra quem eles lutavam; eu também queria lutar. A luta por liberdade também me tinha feito sair de casa, embora eu não tenha refletido sobre isso antes de tomar a decisão.
Saí do hotel diretamente para a igreja ao lado, onde encontrei dezenas de homens e mulheres que alternavam sorrisos e uma expressão de tristeza. Teresa me explicou que seus companheiros tinham esperança de ver o país livre outra vez, mas o clima de repressão e o medo por vezes ofuscavam seus pensamentos positivos.
Um homem subiu ao altar e reafirmou a importância da resistência. Eles trilhavam o caminho certo e ninguém poderia esmorecer naquele momento. Relembrou os companheiros que não se encontravam mais ali, companheiros cujo paradeiro só podiam imaginar, e pediu que cada um dos presentes prosseguisse na batalha por aqueles que não podiam fazê-lo.
Uma das gratas lembranças da minha infância são os bolos com que minha mãe me acordava no dia do meu aniversário: bolos com glacê simples branco. O gosto não consigo recordar agora, mas ao pensar neles sinto um sabor de alegria, de amor, de dedicação.
Minha mãe sempre foi dedicada à família e dominou a cozinha com seu conhecido talento culinário. Talvez por isso eu não tenha me preocupado em aprender muito no campo da panificação e confeitaria (quem precisa aprender a fazer bolos quando tem uma mestre em casa?).
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