08 de março de 2023

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Dois ensaios para enfrentar o 8 de março

Chegou o dia do ano em que recebemos as flores e os bombons, além das mensagens que exaltam a delicadeza e a força da mulher (Erasmo Carlos começou a cantar ao meu ouvido). O dia em que pessoas que nunca se preocuparam com a questão de gênero se convertem, de repente, em defensoras das lutas femininas.

Oito de março é o dia vergonha alheia, que me deixa desconfortável e me faz rezar pelo dia nove. Passo as horas rolando o feed, fugindo dos parabéns e ignorando as mensagens “carinhosas”, em especial aquelas acompanhadas de rosas ou algo do tipo.

Não, eu não sou contra o Dia Internacional das Mulheres. Muito pelo contrário. Aborreço-me com a distorção da data, com o uso mercadológico, com a farsa de machistas, com a tentativa de nos fazer esquecer a desigualdade e a violência que sofremos.

Já escrevi outras vezes (aqui e aqui) sobre o meu incômodo. Dessa vez, sugiro dois ensaios que podem ajudar a entender a situação das mulheres e o modo de pensar acerca do feminismo.

1) Como sobreviver ao 8 de março

[…] a movimentação do discurso não é meramente individual. É coletiva. E o coletivo pode resistir à norma e rasgar, de dentro para fora, a cultura impositiva (p. 21).

Escrito por Marcella Abboud e publicado pela editora Letramento em 2020, o ensaio tem apenas 34 páginas e pode ser lido online e gratuitamente. Como o título adianta, seu tema é exatamente o Dia Internacional das Mulheres.

Assim como eu, Marcella se incomoda com a apropriação da data para outros fins e aponta a contradição que existe entre o dia (em que se celebra a mulher) e o restante do ano (quando a mulher continua com menos direitos, agredida e violentada de inúmeras maneiras).

De acordo com a autora, no dia 8 de março, propagam-se palavras bonitas a favor das mulheres que não se refletem em ações concretas. Ou seja, no dia seguinte, em que pese o discurso em defesa da igualdade, as mulheres não receberão aumento de salário, promoção ou divisão igualitária das tarefas domésticas.

Ela ressalta que o machismo não se restringe ao sexo masculino, uma vez que esse fenômeno é estrutural e, portanto, atravessa o pensamento de todos nós (homens e mulheres). Também destaca que as críticas devem ser feitas às ideias e aos comportamentos machistas e não às pessoas.

Especificamente quanto ao dia 8 de março, ao contrário de mim, Marcella não aconselha as mulheres a recusarem os presentes, despedaçarem as rosas e tal. A estratégia, segundo ela, deve ser reconhecer como as forças opressoras se transformam em felicitação e abandonar a culpa que pesa sobre nós.

2) Sejamos todos feministas

O problema da questão de gênero é que ela prescreve como devemos ser em vez de reconhecer como somos. Seríamos bem mais felizes, mais livres para sermos quem realmente somos, se não tivéssemos o peso das expectativas de gênero.

De autoria de Chimamanda Ngozi Adichie, o ensaio de 43 páginas originou-se de uma palestra que a escritora proferiu em 2012. A editora Companhia das Letras o publicou no Brasil, em 2015, nas versões impressa e digital.

No texto, a autora resgata a sua própria experiência para explicar por que ainda não alcançamos uma verdadeira igualdade de gênero.

Conforme Chimamanda, a prova disso se encontra na presença desigual de mulheres e homens em postos de comando, por exemplo. Mulheres e homens possuem diferenças biológicas, ela sublinha: os órgãos sexuais, a quantidade de hormônios, a capacidade delas de gerar vidas. Além disso, os homens são, em geral, mais fortes fisicamente. Isso, porém, não justifica que governem o mundo, já que outras características (inteligência, criatividade, inovação etc.) substituíram a força física quando se trata da capacidade de liderar.

Para Chimamanda, as formas divergentes de educar meninos e meninas causam as diferenças sociais entre homens e mulheres. Os meninos aprendem a não ter medo e a não mostrar fragilidade. Já as meninas aprendem a sentir vergonha, a se diminuir diante dos homens, a se preocupar com aparência e casamento, entre outros aspectos.

Por fim, a autora reforça a necessidade de revermos a maneira como educamos nossos filhos e nossas filhas. Convida ainda homens e mulheres a participarem da luta pela igualdade de gênero.

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Que tal ler os ensaios? Se quiser, clique nos links a seguir:

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