Comigo, a casa estava mais vazia. O frio entrava e, dentro de mim, solidificava (p. 17).
Morreste-me é o nome dessa obra de José Luís Peixoto, e seu título delata o impacto que o texto causa no leitor.
José Luís Peixoto é um escritor português cujas obras têm sido premiadas e bem recepcionadas pela crítica literária mundo afora.
Morreste-me é difícil de digerir: traz um tema pesado (com o qual ninguém gostaria de lidar), com uma escrita que potencializa o incômodo do tema.
Em primeira pessoa, o narrador fala da morte do pai, como se com ele conversasse. Relembra os momentos vividos juntos, a aproximação da morte, os ensinamentos do pai, mesclando o passado com o presente: o presente em que o filho não tem mais o pai ao lado.
Chamavas-me pelo nome, chamavas-me filho, e ouvir o meu nome na tua voz e ouvir filho no fio cálido da tua voz era uma emoção funda (p. 12).
Para mim, o trecho mais triste é o que relata como ficou o pai ao adoecer: vulnerável, como se criança fosse. Também é tocante a forma como o filho narra sua vida após a morte do pai: ele se aborrece com o mundo que insiste em continuar girando, enquanto aquele vazio invade seus dias.
E este lugar que era mundo, agora, vazio oco quer ser mundo ainda. E, realmente, tudo se mantém suspenso. Tudo quer e tenta ser igual (p. 27).
Não conheço outras obras de José Luís Peixoto e achei original o estilo de Morreste-me. Sua prosa-poética tem uma força arrebatadora, e as palavras, mesmo as mais simples, foram cuidadosamente arranjadas, de tal maneira que nem parecem mais simples.
De novo eu alerto: apesar da qualidade, não é fácil nem divertido ler essa obra. Isso não quer dizer que sua leitura não nos recompense — esse é um livro raramente esquecido. Mas recomendo apreciá-lo naqueles dias em que a comoção não for um problema.
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