19 de dezembro de 2018

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[Resenha] As doze tribos de Hattie

Por Ayana Mathis

  • Título Original: The Twelve Tribes of Hattie
  • Gênero do Livro: Romance
  • Editora: Intrínseca
  • Ano de Publicação: 2014
  • Número de Páginas: 224
Sinopse: Em 1923, aos quinze anos, Hattie Shepherd deixa a Geórgia para se estabelecer na Filadélfia, na esperança de uma vida melhor. Mas se casa com um homem que só lhe traz desgosto e observa indefesa quando seu casal de gêmeos sucumbe a uma doença que poderia ter sido evitada com alguns níqueis. Hattie dá à luz outras nove crianças, que cria com coragem e fervor, mas sem a ternura pela qual todos anseiam. Em lugar disso, assume o compromisso de preparar os filhos para as calamitosas dificuldades que certamente enfrentarão e de ensiná-los a encarar um mundo que não os amará nem será gentil. Contadas em doze diferentes narrativas, essas vidas formam a história da coragem monumental de uma mãe e da trajetória de uma família. Belo e inquietante, o primeiro romance de Ayana Mathis é assombroso do início ao fim — épico, angustiante, imprevisível, vibrante e cheio de vida. Uma história envolvente e cativante, um retrato marcante de uma luta tenaz diante de adversidades insuperáveis e uma celebração da resiliência do espírito humano. As doze tribos de Hattie é um romance de estreia de rara maturidade.
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E se Hattie não conseguisse amar mais um filho? Talvez tenhamos uma quantidade finita de amor para dar. Nascemos com a nossa porção, e ela se esgota se amamos e não somos amados o suficiente (p. 89).

Esta é a tocante história de uma mãe lutando, de uma forma particular, para conduzir sua numerosa família e superar as adversidades.

Primeiro romance de Ayana Mathis, publicado originalmente nos Estados Unidos, em 2012, As doze tribos de Hattie rapidamente se tornou um best-seller por lá e foi incluído na lista de livros do clube de leitura da Oprah Winfrey.

O livro conta a história de Hattie, seu marido, seus onze filhos (dentre eles, um casal de gêmeos que morrem ainda bebês) e sua neta. Ela, uma mulher que, no início da década de 1920, se casa com um homem que não atende a suas expectativas, vê seus sonhos de uma vida melhor em outra cidade ruírem com o casamento e com a morte de seus primogênitos.

O romance parece se caracterizar mais como um livro de contos, cada um deles narrando a história de um ou mais de seus filhos e de sua neta — as suas doze tribos —, que nem sempre se cruzam. E isso foi o que mais me incomodou: não ver, em algum momento, todos aqueles filhos reunidos ou com suas histórias se tocando, embora essa dispersão provavelmente esteja ali de propósito, para indicar as tribos que intitulam a obra. 

No início, tive dificuldade com a leitura, pois o estilo de escrita da autora não é meu preferido, porém isso não me fez desistir e, por volta da metade do livro, encontrei as histórias que mais me encantaram (a de Alice e Billups, a de Bell, a de Cassie e a de Sala) e fui  aprendendo a entender o jeito de ser de Hattie.

Meu capítulo favorito é sobre Bell. Achei-o forte, emocionante. Fala da relação entre mãe e filha, de uma forma dura e, ao mesmo tempo, bela.

Bell parecia a filha com mais mágoas da mãe, devido a uma característica de Hattie já mencionada em capítulos anteriores: ela era uma mãe de muitos filhos que só tinha tempo para fazê-los sobreviver. Não era carinhosa, no sentido convencional, enquanto o marido era amado pelos filhos por ser divertido. Então Bell se lembrava das surras, da frieza da mãe e de seu desejo de ter recebido o amor materno.   

Nunca teve medo de ninguém como tinha da mãe, nunca se sentira tão furiosa com alguém e nunca desejara tanto que alguém a amasse quanto queria o amor de Hattie (p. 184-185).

E, mesmo assim, Bell sentia falta da mãe e percebia que sua vida estava pior longe dela.

A idade adulta trouxe alguma liberdade a Bell, mas não alívio. Sentia-se imperfeita de alguma foram vital, incapaz de fazer a coisa certa. Sempre com medo de que alguma força a fulminasse por seus fracassos. […] Talvez a mãe não soubesse que deveria nos amar, pensou Bell (p. 194).

As irmãs diziam que Bell se parecia com a mãe, mas ela não aceitava essa semelhança. Até que um dia se viu realmente parecida com Hattie, com a versão que ela conheceu por acaso: aquela de mãos dadas com um homem que não era seu pai.

Essa imagem não saía de sua mente: sua mãe feliz como nunca ficava ao lado dos filhos. Parecia uma traição não a seu pai, mas a ela mesma. Afinal, quem era aquela mulher alegre que Bell jamais tinha visto?

Bell então resolveu se vingar de Hattie, porém, no fundo, só buscava sentir um pouco a mãe, estar próxima, descobrir aquela mulher até então desconhecida. E, na dificuldade, mãe e filha se aproximam e conversam de verdade pela primeira vez.

Hattie era mais forte do que Bell jamais conseguiria ser. Não sabia como cuidar da alma dos filhos, mas lutava para mantê-los vivos e se manter viva (p. 198).

O livro trata de outros temas, como religião e sexualidade, mas seu ponto de destaque é o retrato da complexidade dos relacionamentos familiares e do poder de uma ação (ou uma inação) materna sobre a personalidade e a capacidade dos filhos de crescer. Por outro lado, mostra que Hattie não era uma mulher sem amor. Ela tinha sua forma de amar, preocupando-se com o bem-estar físico dos filhos, que foi construída a partir da dolorosa perda de dois deles e de uma vida conjugal desfavorável. Com tantos filhos e tanta responsabilidade, Hattie foi descobrindo inconscientemente que só com firmeza e dureza conseguiria sustentar a família. E talvez tudo isso tenha relação também com o trecho destacado no início: nossa capacidade de amar só nasce, se desenvolve e resiste quando somos amados.

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