Ser estrangeiro não é fácil, mesmo quando se é uma rainha (p. 10).
Este é um livro que diz muito, sem explicitar uma única vez o tema que aborda. É uma forma delicada de tratar um assunto tão em voga mas tão difícil de ser discutido.
Terceiro livro de Joana Estrela, escritora e ilustradora portuguesa, A rainha do Norte é uma obra para crianças e jovens publicada originalmente em Portugal, em 2017, pela editora Planeta Tangerina. Os primeiros livros da autora foram Propaganda (2014) e Mana (2016).
Antiga criada, vinda de um país distante, a rainha casou-se com um rei bem diferente dela e foi morar entre pessoas também diferentes, em um lugar totalmente estranho, onde nem a comida se parecia com a que ela estava acostumada a comer. Ser estrangeiro não é fácil, como dizem a sinopse e uma passagem do livro, e podemos demorar a nos adaptar a outra cultura e a fazer com o que os outros se acostumem a nós.
Era uma vez um rei mouro que se apaixonou por uma criada. Casaram-se e viveram felizes para sempre. durante algum tempo, até que a rainha adoeceu e o rei não sabia como salvá-la (p. 32).
A rainha sentiu essa dificuldade e foi adoecendo aos poucos: sentiu-se mal, cansada, com dores, sem vontade de sair do quarto. E o rei não sabia o que acontecia; já não tinha armas para lutar contra a situação da esposa.
Os médicos e curandeiros fizeram todos os testes físicos, mas não reconheciam o que se passava com a rainha, porque não chegavam a um acordo nem cogitavam que a raiz de seu mal estivesse além de seu corpo. Então, resolveram tratar todas as enfermidades conhecidas. Porém nada obtinha sucesso. Foi um médico diferente, também estrangeiro, quem descobriu o problema da rainha. Isso porque, em vez de realizar uma série de exames, escutou a paciente.
Esse médico não pesou nem mediu a rainha. Tampouco lhe mediu a temperatura, lhe auscultou o coração ou o som da respiração. […] Em vez disso, sentou-se para conversar com ela (p. 36).
Essa é uma bela narrativa sobre como podemos adoecer por outra razão que não os problemas físicos. Pode ser desânimo, solidão, frustração ou só saudade mesmo. Leva a pensar o quanto essas causas são ignoradas, menosprezadas, embora possam ter grande impacto sobre nosso bem-estar.
De forma sutil, poética, o livro fala que é normal se sentir cabisbaixo e que isso pode acontecer com qualquer pessoa, inclusive com uma rainha. Mas faz mais do que isso: aponta para a possibilidade de cura desses males que parecem sem solução e nos mostra que é preciso reaprender a olhar para as coisas que nos fazem felizes.
As ilustrações, feitas pela própria autora, complementam a história; às vezes, os dois são interdependentes, como numa história em quadrinhos; às vezes, as imagens dizem mais do que diz o texto.
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