Meu coração na caneta, meus desejos num papel (Vander Lee).
Antes de mostrar aqui minhas histórias, quero falar do que escrevo (meus gêneros e público preferidos) e de como escrevo (como é meu desordenado processo de criação).
Como confessei anteriormente, ao escrever meu primeiro livro, não usei de técnicas, apenas fui registrando o que minha imaginação me sussurrava. Escrevi com muita paixão, com muito impulso, mas com quase nenhuma consciência do processo.
Ainda escrevo com a mesma afobação. Porém tenho tentado desacelerar e criar as histórias pouco a pouco, mesmo que elas venham a minha mente de repente e de uma vez só. Porque é em uma marcha mais lenta (às vezes, difícil de manter) que posso observar melhor minha própria criação e dar ao texto o tempo necessário para amadurecer.
Foi minha amiga Sâmella (uma das poucas pessoas do meu convívio que têm tanta paixão pela literatura) que me ajudou a construir esse pensamento. Em nossas conversas quase diárias sobre o tema, ela falava de suas pesquisas para o doutorado e do processo de criação de determinado escritor e me estimulava a ler cartas e diários de autores conhecidos. Por causa de nossas conversas, comecei a registrar em um diário minha relação com a escrita, minhas ideias, minhas tentativas de aprimorar minha forma de escrever.
Sâmella me emprestou também o livro Cartas exemplares, que contém cartas de Gustave Flaubert (de quem tantas vezes falamos e cuja Madame Bovary líamos naquele momento). Em suas cartas, Flaubert relata aos amigos o desenvolvimento de sua produção literária. E me vi em suas declarações sobre a angústia da escrita — não uma angústia penosa; uma necessidade inquietante de pôr as ideias no papel. Mas ele, sem dúvida, era mais paciente que eu: demorou cinco longos anos para concluir Madame Bovary, sempre reescrevendo, sempre buscando a palavra perfeita.
Mexeu comigo conhecer a experiência do escritor de um livro que marcou uma época (escandalizando a sociedade e gerando problemas judiciais ao autor) e resistiu ao tempo. Fiz então uma nova avaliação do meu próprio processo e vi que ainda preciso diminuir a ansiedade e pensar em planos a longo prazo, como a própria Sâmella sugeriu, porque continuo criando várias histórias ao mesmo tempo, em um ritmo alucinado.
O lado bom é que, mesmo em minha frenética produção, já tenho maior consciência sobre a forma como escrevo e como quero escrever, tenho maior conhecimento a respeito das minhas possibilidades e das minhas fraquezas (acho até que já nem pulo a mesma amarelinha que minha chefe emérita, Maristela Debenest, apontou um dia). Enfim, não escrevo simplesmente, mas sou capaz de fazer uma autocrítica mais fundamentada — e não só guiada pela insegurança.
Minhas histórias, que me vêm à mente antes mesmo de eu concluir as anteriores (em um descompasso entre a agilidade da minha mente e a das minhas mãos), são em sua maioria voltadas para crianças e jovens. Tenho tentado construir textos que emocionem crianças e jovens e os levem a refletir, sem se converterem em puro material pedagógico. Mas tenho me arriscado também na literatura para adultos e comecei um projeto especial há algum tempo: um romance ambientado no interior do Piauí.
O romance é meu gênero predileto e o conto também me entusiasma. Ainda não me aventurei, porém, na poesia (apesar do incentivo de minha poeta mais querida, Cel Prado).
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