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14 de março de 2024

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Uma carta para Carolina

Você e eu só temos em comum o desejo de escrever, o desejo de menos injustiça. De resto não posso mensurar sua experiência de fome, preconceito e miséria.

Mas senti sua dor nos relatos do dia a dia na favela, no estranhamento na casa de alvenaria.

Sempre que posso falo de você, da sua força, do seu sonho, da verdade em suas palavras, da atualidade dos seus escritos, que datam de mais de meio século. Queria que todo mundo, gente jovem, gente velha, pobre, rica, classe média, lhe fizesse uma visita.

Nascemos separadas pelo tempo. Quando vim ao mundo você já tinha partido dez anos antes e ninguém me apresentou a você. Nosso primeiro encontro foi há cerca de cinco anos, antes que o planeta entrasse em um pesadelo do qual tememos nunca mais sair.

Vi na sua história uma história que não apenas se conta, uma história que ainda se vive neste país tão desigual, embora optemos por fechar os olhos às vezes.

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13 de outubro de 2022

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Verdade ou imaginação?

Por Eriane Dantas

Às vezes, desconfio da minha memória de longa data. Modifico, recrio, dou nova versão às histórias que penso ter testemunhado? Ou a memória dos outros falha? Ou eles não viram o que eu vi?

O meu defeito é ter lembranças entrecortadas. Esqueço os detalhes: o lugar exato, os nomes dos personagens. Assim ninguém pode mesmo acreditar na minha narração. Em outra via, não me lembro de coisa alguma e, encabulada, respondo que “não, não lembro disso” ou “não, não sei quem é fulano” e ouço um desapontado “tu não lembra não?”.

Como se fosse hoje, avisto um conhecido da família, cabeleireiro de profissão, aparecer, na inauguração da praça do nosso bairro, vestido com roupas femininas e montado em um par de pernas que ninguém havia percebido embaixo das calças.

Ao comentar esse fato com meus pais, não soube explicar quem ele era, como se chamava, de onde o conhecíamos (nem eles estiveram comigo na inauguração da praça). Recorri à minha irmã, com quem eu fui ao evento, mas ela sequer se lembra daquela data.

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29 de junho de 2022

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Mais um ano de histórias em mim

Por Eriane Dantas

Quatro anos atrás, nesta data, entrava no ar o blog Histórias em mim, este espaço no qual expresso as histórias do mundo que conheço nos livros e as histórias que saem da minha imaginação.

No início de 2018, andava desconfiada da minha escrita, esta atividade que me segue desde a infância, esta habilidade que (quase) sempre foi uma certeza, mesmo quando não era. Vivia num dilema que ainda me pega vez ou outra: desejava publicar os meus textos; ao mesmo tempo, receava que outras pessoas os conhecessem.

Foi então que uma sugestão chegou até mim: “Por que você não cria um blog literário?”.

À primeira vista, essa pareceu uma ideia sem sentido. Eu não acompanhava blogs, nunca tinha imaginado me tornar uma blogueira, não sabia sequer como criar e manter uma página na internet. Sem falar que, com o excesso de informações e redes sociais, o fracasso seria o resultado mais provável para um blog no final dos anos 2010.

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24 de maio de 2022

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Ontem eu sonhei com o Saramago

Por Eriane Dantas

Ontem eu sonhei com o Saramago. José Saramago. O escritor português conhecido pelos longos parágrafos e pelo uso não convencional das vírgulas.

Não me lembro do seu rosto ou da nossa interação (ou se alguma ocorreu). Só sei que era ele ali, marcando presença na minha mente durante o sono.

Ele apareceu em meu sonho sem mais nem menos. Faz semanas que iniciei e interrompi a leitura de o Memorial do Convento (fui até a metade do livro). Vou retomá-la mais adiante.

Falando assim, dou a impressão de que me refiro a um conhecido, um familiar, um amigo. A verdade é que me sinto íntima do Saramago quando visito suas obras.

Para além de seu estilo único de escrita, admiro seu modo de narrar, sua ironia, a crítica política e social sempre presente em seus textos. Toda vez que leio um livro do autor, acabo acreditando que posso saramaguear, que sou capaz de criar uma obra significativa; começo a ter ideias e vontade de ousar.

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