14 de março de 2020

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O processo V

Revisar, revisar, revisar

Todo escritor convive com um terror permanente: o do erro de revisão. O revisor é a pessoa mais importante na vida de quem escreve. Ele tem o poder de vida ou de morte profissional sobre o autor. A inclusão ou omissão de uma letra ou vírgula no que sai impresso pode decidir se o autor vai ser entendido ou não, admirado ou ridicularizado, consagrado ou processado (Veríssimo, 1995).

Como eu disse aqui antes, um texto literário parece nunca estar pronto. Mesmo quando julgamos terminada a produção do texto, podemos encontrar aspectos a serem melhorados.

Em uma entrevista, o escritor Paulo Wainberg contou que não relê seus livros depois de publicados, pois não vê sentido em ler algo que ele próprio escreveu.

Entendo sua posição. Se visitarmos hoje um texto que nós mesmos escrevemos anos antes, podemos nem nos reconhecer no que está escrito ali e certamente encontraremos muitos trechos que não nos agradam mais. Sobre isso, o próprio Paulo Wainberg diz:

A obra tem de estar acabada, eu sei que se olhar vou querer mexer; mas aí acontece que também não sei se mexendo melhoro ou pioro o texto. A vontade de mexer é forte, mas esses são os 90% de transpiração. Os outros 10% é que são maravilhosos (Noah, 2012, p. 40).

A revisão de um texto em produção pode ser feita primeiramente pelo próprio autor. No meu caso, costumo deixar o texto “descansando” por alguns dias. Isso porque, quando estamos mergulhados no processo de escrita, acabamos não enxergando os erros ou as possibilidades de melhoria.

Sei que esse não é um ato muito ecológico, mas também gosto de imprimir o texto, pois sinto que faço uma leitura mais atenta de uma história impressa. Com ela em mãos, percebo melhor as palavras repetidas, as palavras que não soam bem na frase. Vou marcando e substituindo palavras ou frases, vou cortando o que está sobrando.

Quando falo aqui de revisão, não me refiro apenas à correção ortográfica e gramatical, mas também à avaliação do texto como um todo, com a finalidade de verificar se a produção possui verossimilhança, coerência, coesão, ritmo; se não utiliza muitos clichês, construções mal-estruturadas ou frases desnecessárias.

Toda essa análise não é uma tarefa fácil para o próprio autor, já que sua proximidade com o texto dificilmente permitirá que ele note as fragilidades da produção, a não ser meses ou anos depois.

Por isso, é importante que o escritor peça o auxílio de outras pessoas. Podem ser amigos qualificados (aqueles que têm o hábito de ler) e principalmente profissionais preparados para essa atividade (revisores de textos ou leitores críticos). Tudo isso para que a produção literária apresentada aos leitores seja fruto de um trabalho contínuo e dedicado.


Referências:

NOAH, Marcelo. “O processo criativo sou eu” — entrevista com Paulo Wainberg. In: DOVAL, Camila Canali; SILVA, Camila Gonzatto da; SILVA, Gabriela (Orgs.). A escrita criativa: pensar e escrever literatura. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012, p. 35-44.

VERÍSSIMO, Luís Fernando. Cuidado com os revizores. VIP Exame, mar. 1995, p. 36-37. Disponível em: http://textualidadeassessoria.com.br/cuidado-com-os-revizores/. Acesso em: 6 fev. 2018.

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