Quem disse falar é fácil
não sabe
que às vezes as palavras
ficam presas na garganta
e a gente se sente entalada,
enjoada,
precisando vomitar.
A gente coloca o dedo
lá dentro,
tosse
e pigarra,
mas elas continuam lá,
como um pedaço de carne
mal-mastigado.
Outras vezes
a gente dá sorte
e as palavras escorregam
da garganta,
mas ficam penduradas
na ponta da língua,
como um alpinista
que se desequilibrou
ao subir a montanha
e se segurou
na única coisa que viu
pela frente.
Em outros dias
a gente se distrai
e joga pra fora
as palavras
que já foram alpinista desequilibrado,
que já foram pedaço de carne mal-mastigado,
mas assim que a gente percebe
tenta engoli-las
de volta.
Palavras assim,
tão desacostumadas
a ver o mundo aqui fora,
parecem desajeitadas,
não sabem se comportar,
não entendem
os ouvidos que as bloqueiam
ou os ouvidos que as filtram
e as fazem se transformar
em outras palavras.
Por isso as palavras
vão ficando
lá dentro,
se amontoando,
sem nem mesmo chegar à garganta.
Mas chega o dia em que descobrem
que lá dentro
nem são palavras de verdade,
são só pensamento,
e que precisam sair
de vez em quando
e passear por aí
e talvez encontrar
ouvidos que as acolham.
E acham um jeito de se mostrar
e escorrem pela ponta
dos dedos
e pingam em um papel
branco
que sempre esteve ali,
à espera
de palavras.
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